Quando o João Luiz contou-me parte da história de sua vida nos anos da ditadura militar e de suas prisões no DOPS também disse-me que alguns momentos "dariam um filme". E deu!
Estamos hoje, 31 de março de 2010, caminhando para a gravação do curta "BOTINAS NO ELEVADOR". O roteiro está vivo e mexendo-se, estou na nona versão e virão outras! Uma amiga, inclusive atriz e participante ativa da produção - Vanessa Frisso - disse que devo ficar tranquilo pois um roteiro muda até na ilha de edição. É o meu primeiro roteiro, escrevo sob a orientação e a correção do próprio João Luís e apenas duas pessoas, além de nós, leram até agora e já ouvi comentários que me fizeram repensar algumas cenas... Mas dizem-me que é assim mesmo. Aliás, ouvi certa vez Ana Roxo - escritora e diretora de teatro - dizendo: "um texto é sempre uma escolha... você escolhe o que quer mostrar e nem todos gostam".
É o que tenho feito. Mas confesso: Gostaria que muitos gostassem. Por isso tenho me debruçado no roteiro e tentado melhorá-lo, mas no fim, será mesmo sempre uma escolha.
O que tento é mostrar da melhor maneira possível a história que o João Luís quer contar. Com o humor que ele conserva e passa aos outros.
Não, não é um filme que fala sobre a ditadura, que discute e se aprofunda ou polemiza. É apenas um trecho de um diário, alguns flashes que mostram alguns momentos vividos por um jovem daquela época e por isso mesmo - é óbvio - sob o seu ponto de vista.
São apenas momentos, como num álbum de fotografia, na memória... É quase que uma poesia, uma crônica... Sem maiores aprofundamentos ou verticalizações. São memórias curtas, lampejos.
É incrível, a capacidade que o João tem de superar momentos difíceis. Ele sempre consegue sorrir e olhar com tranquilidade para as situações, muitas vezes, difíceis. Ele ri. Ri, como um sobrevivente. Ri, como um vitorioso. Ele nunca desiste, não sucumbe, não se rende. João Luís sempre vence!
Sem dúvida ele é um resistente. Ele, às vezes, até exagera! Celular? Ele não tem até hoje. Forno de Microondas? Nem pensar!
Mas não é velho, não!
Ao contrário, ele nunca envelhece. Parece um adolescente! Brincalhão, irreverente, dá enormes gargalhadas, está sempre bem humorado. É o que se pode chamar de "gente fina". Ao lado de sua companheira de vida Ana Lúcia, ele esbanja simpatia e traz sempre muita gente pra perto!
Eu tenho a sorte de ser amigo desse cara desde 1993 ! Juntos trabalhamos num cineclube chamado CINECLUBE VENEZA, antigo CINECLUBE DO BIXIGA e desde lá conversamos bastante sobre cinema e política, seus assuntos prediletos.
E digo mais, ele entende e muito desses assuntos!!!
REPETI DE PROPÓSITO, MUITAS VEZES, O NOME DELE: JOÃO LUIZ.
Porque o João Luiz jamais poderá ser esquecido. O cinema nacional não pode ser esquecido. E a ditadura militar também não pode jamais ser esquecida.
É PRECISO LEMBRAR PARA NUNCA ESQUECER!
NUNCA ESQUECER PARA QUE NÃO SE REPITA!
